terça-feira, 2 de setembro de 2014

"Quase um Poema de Amor"


Na Rua da Graça, a dois passos da Praça Rodrigues Lobo, paredes-meias com o Largo Marechal Gomes da Costa, mesmo defronte do local onde, em tempos, Miguel Torga, ou melhor, o Dr. Adolfo Rocha teve o seu consultório, ergue-se a estátua de Afonso Lopes Vieira, esculpida em bronze por Mestre Joaquim Correia, a assinalar o local onde, em 26 Janeiro de 1878, nasceu o Poeta; da casa que ali existiu e foi seu berço, destruída por um incêndio em 1915, nada resta. Mas, aqui, resta um rastro, um eixo poético, que nasce na antiga R. da Água e se estende até à Pç. Rodrigues Lobo, eixo menor em que se inscreve o nome maior desses três Poetas portugueses, eixo que é "Quase um Poema de Amor"

Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor. 
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! 
A nossa natureza 
Lusitana 
Tem essa humana 
Graça 
Feiticeira 
De tornar de cristal 
A mais sentimental 
E baça 
Bebedeira. 

Mas ou seja que vou envelhecendo 
E ninguém me deseje apaixonado, 
Ou que a antiga paixão 
Me mantenha calado 
O coração 
Num íntimo pudor, 
— Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor. 

Miguel Torga, in 'Diário V'

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